Esclarecendo sobre Games e Violência

Acredito que todos que estão lendo isso tenham ouvido falar do ataque que a comunidade de jogadores sofreu no Domingo, dia 24 de Abril de 2011. Para quem não sabe nesse dia foi veiculado através da rede de televisão aberta Record uma reportagem sobre como proteger seus filhos dos jogos eletrônicos violentos, já que estes foram o estopim para o massacre do Realengo.

Primeiramente gostaria que vocês lessem o meu post sobre O porque da violência nos jogos. E se possível como eu acabei Discutindo os games da Rockstar. Esses dois posts citados acima são os únicos neste blog que contem a palavra 'violência' além deste. Não são leitura essencial, mas ajudaria para que você entendesse um pouco melhor a forma como trato o assunto.

Eu não assisti a reportagem, e particularmente não me interessa assistir, mesmo para tentar refutá-la. Sei que para a maioria dos leitores esse post não é necessário escrever qualquer coisa. Mas aqui pretendo limpar o nome dessa forma de entretenimento que amo. E mesmo sem assistir essa reportagem em especial já conheço todos os argumentos utilizados.

Vou começar concordando com o argumento sobre filhos precisarem de proteção. Quando uma criança tem menos de três anos de idade você não oferece brinquedos e objetos com partes pequenas que possam ser engolidas por ela. Da mesma forma que você não exibe filmes pornográficos para crianças de oito anos de idade. É o senso comum na educação de uma criança que existe certa idade para sujeitar a criança a certos estímulos. Mas quando se trata de violência não existe um senso comum de quando apresentá-la aos infantos.

A existência de desenhos animados inerentemente violentos no horário da manhã nas redes de televisão prova que desde muito cedo as crianças podem ver isso. Mas no quesito audiovisual os desenhos e filmes violentos têm o mesmo conteúdo que jogos para a mesma faixa etária. Inclusive a instituição nacional que avalia ambos é a mesma. Nosso digníssimo Ministério da Justiça, que organiza e força que todos os jogos eletrônicos publicados no país tenham a classificação etária indicada em sua embalagem. A partir deste ponto passa a ser responsabilidade dos pais educar e se necessário restringir o acesso a jogos que eles consideram impróprios a seus filhos. Filhos não gostam de ter restrições, e basicamente jogar o quê quiserem quando quiserem, mas legalmente cabe aos pais tomar essas decisões para educar os filhos.

Há muitos anos atrás (Acredito que em 2002 ou 2003) quando essa discussão surgiu na televisão aberta em uma reportagem similar a transmitida recentemente, eu ainda era menor de idade e já jogava jogos violentos (um dos meus primeiros jogos foi Command And Conquer, em 1995, que tem tiros na cabeça em vídeos gravados, e joguei GTA em 2000, quando tinha doze anos de idade). Tudo que meu pai falou foi: "Eu acredito que ensinei ao meu filho que a violência nos jogos não é de verdade, e que na vida real esse tipo de comportamento não é aceitável." Meus pais restringiam o tempo que eu podia jogar (para disciplinar meus estudos), mas nunca restringiram quais jogos, exatamente pelo motivo que meu pai falou. Jogos são ficção. E cabe ao pai ensinar que em um universo ficcional violência existe e é aceita. Da mesma forma que ele ensina que não se deve engolir tudo que se pode engolir por uma questão de segurança.

O que realmente invalida qualquer comentário sobre os "malefícios de jogos violentos" pelas redes de televisão, ou qualquer outro meio de comunicação, é o fato de eles também veicularem violência diariamente. Porque eles podem falar de assassinato, estupro e morte todos os dias e os jogos não? Teoricamente o fato de o jogador poder escolher se será violento ou não faz toda a diferença no argumento. Mas os jogos são fictícios, enquanto a violência demonstrada nos jornais, sejam esses jornais audiovisuais ou impressos, é real e existe no nosso mundo desde muito antes de existirem os meios técnicos para se criar jogos eletrônicos. E o jogador poder escolher se será violento não o torna violento. E mesmo se ele escolher ser violento em um ambiente virtual não quer dizer que é assim que ele tratará as situações na vida real. Então se você acha que jogos deixam as pessoas mais violentas e quer impedí-las de jogar então pare de assistir televisão porque ela também te tornará violento, e você não quer isso.

Mas nenhum dos dois absolutos é verdade. Não é a televisão mostrando violência real ou os jogos mostrando violência fictícia que tornará alguém um matador sanguinário. Existem outros fatores determinantes para isso, que psicólogos explicaram de forma melhor que eu jamais poderia. Pode existir alguma influência desses meios na forma como uma criança enxerga a resolução de problemas, mas se essa influência existir e for significativa eu acredito que não existe diferença entre os dois meios. Porque a violência nos jogos é apresentada de forma audiovisual, da mesma forma que nos filmes e noticiários.

E finalmente eu coloco aqui a questão da parcialidade das mídias tradicionais, que perdem cada vez mais audiência, e com isso dinheiro, para outras atividades, como por exemplo os games. Então é muito conveniente acusar os jogos de serem grandes vilões para seu público sem informá-los apropriadamente sobre o assunto, simplesmente manipulando as pessoas para que essas continuem dando audiência ao meio de comunicação dominante sem cogitar outras opções.

Então se por algum acaso você está lendo isso e não se considera um jogador e viu a reportagem concordando com os argumentos, por favor pense melhor antes de acusar pessoas que compartilham um hobby de serem mais violentas que outras apenas por terem escolhido algo diferente. Porque essa acusação já é violenta e mentirosa, e uma pessoa violenta não pode criticar outra pessoa por ser violenta sem se tornar um grande hipócrita.

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